2009-11-10

visita a AFUA

Os caminhos sinuosos são mais demorados e por isso deixam-nos usufruir com mais calma as pessoas, as conversas, o estar. Pedir direcção. Para onde quero ir. Nós sabíamos. Ter direcção só não chega. É preciso saber como ir.

O bairro. A organização. O verde. As casas. As ruas sem carros. Ou poucos carros. Bonito. A alma gosta de organização. Penso: por isso não gostamos dos espaços confusos porque também nos confundem. Nós somos também o espaço que ocupamos.

O café. No bairro. Dentro as pessoas velhas. Gordas. Magras. Sem dentes. Com dentes. O avental a dizer tantos afazeres da alma porque o corpo até tem tempo. Grata pelo pequeno-almoço que me ofereceu querida. A jovem. Magra. Talvez demasiado. Está lá há 6 meses. Não gosta de coscuvilhice.

AFUA. Última casa do bairro. Sinto: é bom ser a última porque me dá a oportunidade de sentir este caminho, de ver as pessoas na rua, olhar para as janelas e adivinhar as rotinas nas casas. Talvez as mulheres estejam a fazer as camas, a arejar o quarto. Talvez os homens estejam juntos a conversar sobre a vida. Talvez.

Entramos. Gosto de entrar com o grupo. Estou feliz por partilhar esta visita com pessoas bonitas. A entrada é simpática. As cores. Os trabalhos expostos das pessoas dão tanto significado ao espaço que é dessas pessoas. A Joana sabe acolher. Acolhe-nos. Sinto-me à vontade. O computador deixou de ser dos técnicos porque os utentes precisam dele. Alternativa: trouxemos os nossos portáteis. Sorrio. Faz-me sentido.

A AFUA nasce da necessidade das famílias que sofrem por ter filhos, maridos, mulheres com doença mental. Penso: o que é ser doente mental? Qual a fronteira? É isto a intervenção comunitária. Os técnicos são úteis às pessoas e não usam formas de poder. Ajudar. Partilhar. Beneficiar.

As ocupações são tão válidas aos meus olhos. Grupos onde se discutem notícias do mundo. Teatro. Relaxamento. Computadores. Entrada de livre vontade. O ser humano não gosta ser obrigado. A força é inútil.

A luz. O jardim. Senti que a boa vontade de trabalhar com as pessoas é superior ao constrangimento do espaço pequeno. Olá Susana. Prazer. Placards na parede a ajudar a organizar as cabeças que alguns dizem que não funciona. A mim provaram o essencial naquela manhã. O amor. O sorriso. Os abraços. As fotografias. A disponibilidade. Eles agradecem. Nós agradecemos. Eu sinto-me mais rica como ser humano.

O regresso. Carro cheio. Vá mais devagar Susana. Abrandei. Aprendi naquele momento que a prioridade não era chegar a custo. Era estar serena naquela viagem. Chegamos. Eu fico aqui. Eu desço consigo. Olá Irene. Um abraço terno. Ate para a semana. Ate já.