2008-05-20

a vida é filha da puta. ponto

Não preparei o meu coração para o próximo tremor de terra.
Não consigo ler nem escrever nem concentrar-me nem olhar-te.
Desgastei a alcatifa em gestos repetidos frenéticos porque perdi o teu olhar algures atrás de mim.
Encostei-me ao umbral da sombra do que resta dos sonhos e enquanto não te movimentares a náusea que se enterra no peito vai-nos sufocar.
O teu silêncio trespassa-me os ossos.
Embriagar-me-ei em direcção ao mar para que a desolação do presente deixe de arder cega quando rebentar a luz.
Encontrar-nos-emos esta noite no mesmo pesadelo que teima em vender imagens gastas de afectos e ódios. De areia e cinza. De tempo inútil intacto guardado na boca que não diz. Intensamente.
Passamos a vida numa espécie de mutismo quando nos sentimos morrer.
A vida é filha da puta. ponto.

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