2009-09-16

raizes nas ondas do mar

serenamos os corpos nus diante da chuva quente a cair miudinha e contei-te uma estória de crianças daquelas de encantar e fazer sorrir. era uma vez uma menina que quis semear amigos com raiz nas ondas do mar. o mar tem olhos comovidos e por isso chora lágrimas de sal. disseram que espuma branca do mar não pressente raiz e que só a terra mãe inventa sombras com direcção ao tronco que ergue sabedoria. como sonha ternura a menina reservou o brilho da lua que faz nos dedos a escrever verdades e amarrou o tempo para decidir. veio a manhã agarrada à vida e ela escorregou no tempo para espreitar o futuro. ela tinha pensamentos de cabeça barrentos daqueles que fazem cócegas no profundo. as conversas de ontem dão paz aos sentidos mas também cedem à solidão de que às vezes somos portadores. cresceu o pescoço como girafa de selva livre e respirou a brisa das nuvens. no corpo enamorado pela praia estão guardadas conversas de outras margens tombadas por um artesão de sonhos contra lógicas sacudidas pelo olhar de uma criança. as crianças são sementes de amor. as crianças brincam felizes com o mar e falam-lhe com a pele encostada ao coração que constrói amores concretos como ondas esticadas na areia fina que vive nos dedos dos pés. o mar agradece em gestos simples que muitos não encontram favor mas as crianças sobram de pronunciar. as ondas são as raízes que autorizam candura e cavalgam medos para trás da vida. as ondas fazem simplicidades bonitas e levam antigamentes enrolados para muito longe do mundo. se é assim a menina aprecia ficar presa a uma onda possível de acontecer amigos com raízes. Pousei a chávena devagar. gosto muito desta estória murmuras-te com a pele atravessada de poesia a penetrar sono nos teus doces olhos.

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