2007-09-14

depois desta morte não há mais nada

Depois desta morte não há mais nada para além do teu olhar sofrido em ruídos ensurdecedores.
Ou talvez haja. O abismo de nós. Em queda livre sem suporte de mim.
Na ausência de ti.

Escudamo-nos em subterfúgios estúpidos. Vazios.

Passos ocos invadem a cama onde os corpos mortos se anunciam. Estamos longe. Muito longe. Pensarão outros que a cama é a paz anunciada depois de um dia de fuga. De muitos dias de fuga. Cansaço que não mata. Mas mói. Mói o negro da nossa presença.

Esqueci-me do teu cheiro. Fujo da tua pele. Agonio se me deito só.
Vomito desesperada solidão se te deitas ao meu lado.
Lembras-te quando fazíamos amor.
E agora resta-nos a complacência dos dias arrastados.
Passos lentos de desnorteados vazios.

Risquei o teu número de telefone na esperança que mo devolvas ontem.
Fiquei de fora. Abri brechas pelas circunstâncias na busca de novos rumos
O programa das relações não foi decifrado.
Lembra-me para comprar um descodificador. Quanto custa ampliar causas evitáveis do estado de nós.

O locutor anuncia uma notícia que não quero ouvir. Diz: o desenvolvimento explosivo das comunicações abre possibilidades gigantescas de difusão de informação. O convidado comenta que a parte fundamental do nosso papel exige um esforço para responder às demandas destas exigências.

Abandonamo-nos amanhã. Imobilizados estendemos os esqueletos nauseabundos de cheiro a morte ao sol onde chovem calhaus de sangue sem cor. A negociação permitirá detectar pontos comuns, identificar vantagens para todos na execução de acções conjuntas. Detesto gravatas. Aborrece-me os sorrisos desordenados do locutor sem destinatário. Esquizofrenicamente aumento o volume da televisão.

Deito-me de olhos abertos para não ver os meus despojos.
Deixei de esperar por ti. Tens um copo de leite junto à cama.

Sem comentários: