2007-09-16

quando lia natália correia...

tens sangue a escorrer no cabelo
queria lamber o olhar ausente de ti
acossar-me num pérfido desejo de te morrer agora
não depois. não antes. agora
faltam cinco minutos de eternidade para chegar a lado algum

corro na urgência paciente farejando a navalha da nudez
com que estendes a alma na cama
anulo a lembrança do tempo que não tenho
absurda convicção de que te despenharias no carrasco
do grito dilacerante com que te reservas aos anfitriões da morte

estouro com riso à beira do teu caixão
onde derramo água benta para esconjurar
os espíritos malignos da madrugada

na febre gelada deste sacrilégio escolho o bem cruel
e bebo um cálice de aguardente rodopiando
num festejo infantil da impotência do que sou
gesticulo grosseiramente na forja nauseabunda
daquilo que julgo ser capaz

A maioria foi até ao fim
tu não
porque não me dizes agora o que repetias cansadas vezes
como se de uma voz esventrada se tratasse
nasci morta
foi um alívio
e o filho da puta do sinal intermitente que não muda
quanto tempo falta para o tempo da vida metamorfosear
o meu corpo morto

Sem comentários: