2009-04-08

a mão que marca os livros

alguns anos depois encontrei-te num centro comercial a almoçar com o olhar pousado no prato afundado de comida que cheirava a saudade. sabia que estavas lá por força de alguma coisa porque na verdade nessa tarde de sábado deslizarias o corpo para o sol. ambas tínhamos motivos para nos amarmos. nunca me espantou como houve nestes alguns anos o entendimento tácito do nosso gostar. se não deslizo no equívoco de quem fica do lado de cá da vida aceito as forças para recordar o veludo do teu abraço doce. na ânsia desmesurada de te sorrir para sempre enterrei o silêncio do momento e avancei com um olá como estás. ficamos sem pausas para dois desenfreados monólogos com medo que uma atenção devota vinda dos corações nos lançasse num convite de amor. incondicional. estou bem. abracei-te. abraçaste-me. abraçamo-nos. de infinito. e tenho sempre à mão a mão erguida ao céu que marca os livros. está partida. a mão. Falta-lhe um dedo. na mão. tem dor. está erguida ao céu. marca os livros para me serenar a descoberta desenfreada. em Itália escreves-te nas costas da mão partida ‘contigo é igual: sente-se uma necessidade de estar perto e voltar o quanto antes’. está erguida ao céu. a mão. 'lembrei-me de ti porque as cidades são definitivamente angélicas’. escreves-te. nas costas da mão. partida. erguida ao céu. a mão.

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