2009-04-08

quase dormis-te dentro das minhas mãos

leio: ‘ os dias mágicos passam depressa deixando marcas fundas na nossa memória que alguns chamam também de coração’. no fim da viagem as mãos emprestaram cheiros adoçados de maresia aos teus cabelos despenteados. andei devagar de propósito para não te desassossegar. quase dormis-te dentro das minhas mãos. e quase te abracei. mas já era tarde. cumprimentamos todos. despedimo-nos de todos. eu aproximei-me de fininho. tu aproximaste-te em sorriso desajeitado. afinal os olhos brilham à noite quando já ninguém parece reparar porque estão à toa dentro de gaiolas como as gaiolas dos pombos. parece que pedimos um café a mais e quando cheguei à mesa onde estavam alguns alguém perguntou para quem era aquele café. e as nossas bocas arejaram um ruído tipo estalido de porta enferrujada e velha é para ti. sem pressão dividimos a cadeira e o café que não era de ninguém. e enchemos o momento de prazer pelo tempo dentro do tempo. a campainha tocou. fomos. ficamos separados mas as mãos emprestadas para mim tiveram o cheiro do mundo todo ali. as luzes apagaram-se. endireitei-me na cadeira para não atrapalhar os sonhos que estavam a chegar. por favor desliguem os telemóveis. o espectáculo vai começar. era um mês de março. o vento passava devagar e as palavras eram mais um segredo que um barulho. quase não me importo que a viagem fosse mais longa.

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